A luz do dia excede sua função de iluminação dos espaço. É uma ferramenta criativa manipulada por arquitetos para imbuir o espaço de um significado metafísico, influenciando os estados emocionais de seus ocupantes. Tendo um efeito fenomenológico na psique humana, a luz e a sombra têm sido usadas para evocar um senso de divindade e espiritualidade no caráter dos edifícios religiosos. A interação entre arquitetura e a luz é poderosa, e molda experiências mais profundas de espiritualidade.
A associação da luz com o divino, presente em várias culturas, tem se refletido em espaços sagrados desde tempos imemoriais. Do Stonehenge às pirâmides, dos templos do sol aos zigurates, a qualidade arquitetônica das estruturas antigas enfatizou a relação das pessoas com o sol. O espaço construído era centrado na luz solar, protegendo seu papel inerente nas rotinas diárias das comunidades antigas. À medida que as sociedades se afastavam de visões de mundo simbólicas e religiosas e se aproximavam de visões mais racionais e cosmopolitas, a relação das pessoas com o sol perdia importância. Porém, a arquitetura religiosa contemporânea ainda mantém o diálogo entre luz e espaço por suas qualidades fenomenológicas.
A visão é o sentido mais dominante e impacta em como o espaço arquitetônico é percebido fisicamente, emocionalmente e espiritualmente. Através da visão, a luz traz consciência. As qualidades efêmeras da luz - brilho, cor, textura - criam vários efeitos psicológicos e fisiológicos em combinação com sua contraparte de sombra. Símbolo de iluminação, sabedoria, bondade e pureza, o dinamismo da luz natural nos locais de culto é capaz de elevar a mente humana além das limitações materiais. Na arquitetura sagrada, muitas vezes assume facetas de misticismo e santidade, enfatizando outros elementos do espaço.
A luz é inseparável do espaço. A arquitetura não apenas hospeda a luz natural, mas é organizada para fazer o melhor uso dela. O ritmo das qualidades de luz reflete áreas de pausa, movimento e ênfase na maioria dos espaços religiosos. O design da incidência da luz muda de acordo com a intenção do espaço. Enquanto as religiões em todo o mundo reverenciam a luz como um símbolo divino, sua articulação varia com as práticas culturais e as metáforas espirituais. A luz é exclusivamente utilizada como uma ferramenta para a experiência fenomenológica.
Os edifícios da antiguidade direcionava a luz do dia através de muitos elementos derivados da cultura, como os oculi do império romano e a Mashrabiya (tela perfurada) do período otomano. A luz era trazida principalmente através de telhados, cúpulas e extremidades mais altas do que as paredes, como uma forma de simbolizar o todo-poderoso acima. Algumas culturas adotaram o uso de vitrais para alterar a cromaticidade da luz natural. A luz foi usada para santificar o espaço arquitetônico e construir um senso de espiritualidade.
Espaços de culto contemporâneos seguem o exemplo e trazem a luz do sol de perto e de cima, embora em expressões mais abstratas. Ao contrário de seus precedentes que mantiveram uma identidade dominante, a arquitetura religiosa moderna combina pós-modernismo, minimalismo e estilos futuristas para expressar a espiritualidade no espaço. As tipologias se inspiram em suas raízes e promovem a relevância fenomenológica cultural da luz.
Mesquitas
Na arquitetura religiosa islâmica, a luz é usada para fazer com que os materiais de construção pareçam transparentes. É usado como elemento decorativo para diminuir a solidez e frieza da estrutura. Além de simbolizar a iluminação espiritual, os padrões de luz e sombra das telas perfuradas trabalham a mente.
A Mesquita Aman da Nakshabid Architects em Bangladesh apresenta uma única massa de concreto perfurada com pequenas aberturas triangulares, reminiscentes do tradicional Mashrabiya. As perfurações permitem que a luz do sol crie um cenário sublime e místico. Na Austrália, um óculo paira sobre as galerias de oração e um salão na Mesquita Punchbowl. A Candalepas Associates projetou o espaço para aproveitar raios de luz do dia através de Muqarnas (cofres em forma de favo de mel), criando uma atmosfera espiritual que muda ao longo do dia.
Igrejas
Nos primórdios do Cristianismo - quando era ilegal e não tinha estruturas religiosas - os devotos se organizavam em locais escondidos em cavernas e morros. Dizem que sua prática inicial de esculpir pequenos orifícios como janelas levou à prática de incorporar janelas de clerestório nas igrejas. Oculis e vitrais foram amplamente utilizados, alinhados com os valores cristãos da estética. Na arquitetura da igreja, a luz também tem sido usada para separar os espaços.
A Church of Seed da O Studio Architects, localizada na China, comunica sutilmente uma atmosfera de sonho através do jogo de luz e sombra. A luz transforma o espaço interior e traduz a mensagem da cultura religiosa da sua região. A Igreja Bancho, da Tezuka Architects, homenageia as aberturas coloridas das igrejas tradicionais com perfurações no teto projetadas para direcionar a luz.
Templos Budistas
Para os budistas, a luz simboliza a obtenção da "iluminação" do Buda. Na arquitetura budista, a luz é usada principalmente para iluminar a estátua de uma divindade em vez da própria arquitetura. No Templo Budista Kuhon-ji, no Japão, os reflexos da luz do sol são lançados nas paredes e no chão, dando uma sensação metafísica, de amplitude.
Templos Hindus
Os antigos templos hindus orquestravam movimentos da luz para a escuridão, da entrada externa ao santuário mais interno. À medida que se anda pelo templo, pontos agudos de luz quebram espaços menos brilhantes, trazendo uma sensação de admiração. Como no Shiv Temple de Sameep Padora & Associates, muitos templos hindus orientam a luz para cair sobre o ídolo da divindade principal. Como a luz do dia não é tão substancial para a arquitetura do templo hindu, lâmpadas a óleo e outra iluminação artificial inevitavelmente iluminam o espaço à noite, como visto no Temple in Stone and Light, da SpaceMatters.
Sinagogas
A existência difundida da comunidade judaica e a relação instável entre o judaísmo e outras religiões têm dificultado a evolução de um estilo arquitetônico reconhecido. A luz tem um significado cultural e metafórico no judaísmo e a Sinagoga da SeARCH na Holanda a celebra através de grandes aberturas e um corte no telhado para a luz natural. Com 600 aberturas, a Sinagoga Ulm na Alemanha é iluminada em muitos pontos e tem um foco central no santuário.
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